sábado, 17 de novembro de 2012

CONSEQUÊNCIAS DA VISÃO PEJORATIVA DA POLÍTICA PARA A DEMOCRACIA


Analisemos dois casos que atestam as conseqüências funestas advindas da visão negativa da Política pelo brasileiro médio:

1º) Quando, em 1993, foi julgado o pedido do ex-presidente Collor de não suspensão de seus direitos políticos, todo mundo afirmou que o STF só teria sua dignidade preservada se o julgamento do pedido não fosse um “julgamento político”. Qual é o paradoxo dessa afirmação?
A República Federativa do Brasil é formada por três poderes políticos distintos, e que devem ser autônomos: Executivo, Legislativo e Judiciário. O Supremo Tribunal Federal, sendo um poder da república (do Estado), não pode ficar fora da Política. E quando os juízes afirmaram, na época, que fora um “julgamento legal”, esqueceu-se que as leis são elaboradas por outro órgão político, o Legislativo? Quem está com a razão?
Só para lembrar, embora o ex-presidente Fernando Collor de Mello tenha sido cassado pelo Congresso Nacional, em 1992, por corrupção em seu governo e perdido os direitos políticos por oito anos, em 1994 foi absolvido pelo STF por falta de provas! Hoje Fernando Collor é senador da República, eleito pelo estado de Alagoas.
São esses paradoxos que confundem e afastam o povo da participação política, mesmo porque a grande maioria vê a Política com certo moralismo e ingenuidade, o que
a distancia ainda mais de uma participação menos cândida e, sim, mais realista e ativa.

2º) Nas últimas eleições gerais para presidente, governador, senador e deputado estaduais e federais, o humorista Tiririca foi o deputado federal mais votado do Brasil, eleito com mais de um milhão e meio de votos. Outros três deputados subiram com ele. Foram votos de protesto, principalmente jovens descontentes com os políticos.
Não estamos aqui nem colocando a questão de que o humorista nem ler e escrever sabia e quase teve sua candidatura impugnada por isso. A honestidade e competência em Política não dependem necessariamente do grau de ensino. Mas esse tipo de voto de protesto atira no próprio pé ao não colaborar em nada para a melhoria da classe política, mas, ao contrário, piora. E muitos dos que vivem criticando os maus políticos e dizendo que “todo político é ladrão” acabam caindo em tais contradições práticas!
Fonte: Revista Ciência&Vida, Ano Vll, nº 75, outubro 2012, pag. 41
Odemir Silva

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO NEM SEMPRE GARANTE A EXPRESSÃO DA LIBERDADE



A pesar de tudo e com todo o lixo de nossa história, que não é nem pior nem melhor do que o lixo da história de outras nações aqui pode observar e constatar uma coisa terrível: o papel de grande parcela dos meios de comunicação de massa, principalmente das redes de televisão, na (desin-) formação e divulgação de preconceitos sobre Política e os políticos. Se todos os organismos sociais e instituições tivessem a marcação cerrada que a mídia dedica aos políticos, certamente não ficaria pedra sobre pedra em nossa sociedade.
Desde o fim da ditadura militar essa parcela da mídia e vários jornais e revistas de circulação nacional têm tratado os políticos como inimigos públicos número 1, denunciando diariamente falcatruas, maracutaias, negociatas, compra de votos, fraudes em licitações, uma corrupção generalizada que assusta até o pai da mentira. Até aí, tudo bem. Os meios de comunicação devem denunciar mesmo.
Todavia, um ponto fica flagrante: os culpados que se destacam nos noticiários são os políticos, principalmente, da chamada “esquerda”. Empresários, o Judiciários, as redes de TV, as ONGs, as igrejas, mesmo os sindicatos, o crime organizado, as máfias, todos são tratados com menos rigor pela mídia, ou não recebem o mesmo tratamento prolongado de denúncia.
Há ainda um agravante. Muitas dessas denúncias ou caem no esquecimento depois de algumas semanas ou nada se comprova do que foi dito, ou ainda os acusados são inocentados depois de meses ou anos (a justiça é lenta), mas o estrago já foi feito. Foi o que levou o jornalista Paulo Henrique Amorim a chamar a grande imprensa de PIG (Partido da Imprensa Golpista).

Fonte: Revista Ciência&Vida, Ano Vll, nº 75, 10/2012, pág. 40

Odemir Silva
Ciências Políticas