Analisemos dois
casos que atestam as conseqüências funestas advindas da visão negativa da
Política pelo brasileiro médio:
1º) Quando, em 1993, foi julgado o pedido do
ex-presidente Collor de não suspensão de seus direitos políticos, todo mundo
afirmou que o STF só teria sua dignidade preservada se o julgamento do pedido
não fosse um “julgamento político”. Qual é o paradoxo dessa afirmação?
A República Federativa do Brasil é formada por três
poderes políticos distintos, e que devem ser autônomos: Executivo, Legislativo
e Judiciário. O Supremo Tribunal Federal, sendo um poder da república (do
Estado), não pode ficar fora da Política. E quando os juízes afirmaram, na
época, que fora um “julgamento legal”, esqueceu-se que as leis são elaboradas
por outro órgão político, o Legislativo? Quem está com a razão?
Só para lembrar, embora o ex-presidente Fernando
Collor de Mello tenha sido cassado pelo Congresso Nacional, em 1992, por
corrupção em seu governo e perdido os direitos políticos por oito anos, em 1994
foi absolvido pelo STF por falta de provas! Hoje Fernando Collor é senador da
República, eleito pelo estado de Alagoas.
São esses paradoxos que confundem e afastam o povo da
participação política, mesmo porque a grande maioria vê a Política com certo
moralismo e ingenuidade, o que
a
distancia ainda mais de uma participação menos cândida e, sim, mais realista e
ativa.
2º) Nas últimas eleições gerais para presidente,
governador, senador e deputado estaduais e federais, o humorista Tiririca foi o
deputado federal mais votado do Brasil, eleito com mais de um milhão e meio de
votos. Outros três deputados subiram com ele. Foram votos de protesto,
principalmente jovens descontentes com os políticos.
Não estamos aqui nem colocando a questão de que o
humorista nem ler e escrever sabia e quase teve sua candidatura impugnada por
isso. A honestidade e competência em Política não dependem necessariamente do
grau de ensino. Mas esse tipo de voto de protesto atira no próprio pé ao não
colaborar em nada para a melhoria da classe política, mas, ao contrário, piora.
E muitos dos que vivem criticando os maus políticos e dizendo que “todo político
é ladrão” acabam caindo em tais contradições práticas!
Fonte:
Revista Ciência&Vida, Ano Vll, nº 75, outubro 2012, pag. 41
Odemir Silva