sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O que é Política Pública[1]?



Parte I

Por Odemir Silva[2]



O Professor Oswaldo de Oliveira Santos Jr.[3] em seu texto sobre “Estado contemporâneo e políticas públicas”[4] onde tem o objetivo de iniciar uma discussão sobre Estado a apartir do “pensamento de teóricos fundamentais para o conhecimento do tema” o professor cita Maquiavel, Rousseau e Marx, abrindo uma discussão sobre a “noção de políticas públicas”. E conforme o professor esse artigo pretende elaborar uma análise sobre que o: 

Estado e as políticas públicas é um exercício mais complexo que parece à primeira vista, pois não se trata de definir e conceituar o que é Estado e políticas públicas e de tentar situar num determinado momento histórico e num espaço geográfico tais conceitos. (2013, pág. 92).

Em Maquiavel percebo ter um viés para pensar políticas públicas, pois é o autor de O príncipe que procura justificar que o “...Estado passa a ser analisado como um fenômeno (histórico, jurídico, político e social) complexo, visto em seu contexto” e é importante destacar que esse autor instituirá “os elementos fundamentais da ciência política (2003, pág. 92) que segundo Oliveira a idéia da obra de Maquiavel é revelada, “envolta num contexto de limitações de ordem teórica e analítica, ela foi capaz de produzir um pensamento original para a reflexão dos fenômenos políticos” citando MASIP, 2001 Oliveira destaca que a “força e a solidez do Estado dependerão da sua estrutura e da virtude cívica[5] dos cidadãos”.
Imagino que o Estado terá sempre que dialogar com os cidadãos e isto só será possível com os cidadãos organizados, pois conforme Oliveira que cita CHAUÍ, diz que o:

“Governante para chegar a se manter no poder, ainda que para isso se faça uso da força, contudo sempre buscando ser amado e respeitado pelos seus súditos, jamais provocando o ódio” (CHAUÍ, 2000, p. 396).

Vieram outros pensadores após Maquiavel tais como: Thomas Hobbes, John Locke, Montesquieu e Rousseau que terão um “conjunto de regras que tem por fundamento a natureza humana...”. Porém é em Rousseau que teve “como principio natural, que resultou em contrato social, conforme SANDRONI, 1994; DALARI, 2009”. E Rousseau aponta a solução para “amenizar a força destrutiva de cada indíviduo, sem, contudo, restringir a liberdade individual, já que por esse contrato ele obedece a si mesmo, é consentido (DALARI, 2009)”


 Oliveira afirma que “é por isso que se encontra em Rousseau a afirmativa de que a ordem social (a sociedade) decorre da vontade”, pois “assim, portanto, é a vontade, não a natureza humana, o fundamento da sociedade, conforme DALARI, 2009, p. 16-17”, isto é, a “vontade que produz o assentimento, a razão que legitima a sociedade” e para Rousseau o contrato social “vem solucionar o problema das disputas entre os indivíduos que inviabilizam a vida em sociedade” e que  agora em sociedade, passa a viver de forma soberana em prol da “vontade geral, entendida como a síntese das vontades individuais e, portanto legítima e tendendo sempre para um bem público”.
Para tanto as sociedades atuais são, “...marcadas pela ruptura com a forma de ler e explicar o mundo”, isto mostra que com o passar dos tempos a sociedade interpreta o mundo conforme sua necessidade atual e suas características fundamentais são a “...fragmentação e o subjetivismo” que se desenvolvem na vida da sociedade e os padrões “desaparecem e surgem múltiplas expressões e manifestações que têm impacto direto sobre o sujeito e suas práticas”.
Oliveira destaca que Karl Marx utilizará o termo “sociedade em três dimensões distintas”, isto é, a “sociedade humana ou humanidade socializada” e “tipos historicamente existentes de sociedade (feudal ou capitalista)” e “qualquer sociedade particular (Roma antiga ou França moderna)”, observo que Marx rejeita a idéia de “sociedade Abstrata” pois o ser humano é um “ser social e a sociedade é inseparável da natureza”, imagino que o ser humano é capaz de realizar transformações na natureza através do trabalho, e também transforma as próprias relações humano-sociais, “criando novas relações de trabalho e o desenvolvimento de novas tecnologias ou ampliação das forças produtivas”.
Portanto o Estado surge com a função de “garantir e preservar os interesses da classe que detém a hegemonia da sociedade” e conforme Oliveira “tal ação gera no interior da sociedade um Estado corporativo e uma urbanização que possui um sentido corporativo”. Nesse mesmo pensamento de que o estado administrará de forma que atenda os interesses da “burguesia e legitimar suas práticas de exploração e usurpação da classe trabalhadora” é interessante pensar que conforme Oliveira “...o poder é necessário para o ordenamento da sociedade...esse poder decorre da dominação do mais forte sobre o mais fraco”.
No contexto do Estado contemporâneo destacam-se três elementos a “capacidade militar, a autossuficiência econômica e a especificidade cultural”, que com a quebra do “pé econômico” deixa o estado sob pressão do “mercado global”.


Dessa forma o estado não tem como investir em políticas públicas porque a única ação atribuída aos estados é a de manter o equilíbrio do “orçamento e o policiamento das pressões das populações” que se sentem desapropriadas de suas riquezas, ou seja, “cabe ao Estado o papel de repressor das pressões locais” e o Estado operando em “favor do capital” tornando-se muito mais que “porta-voz das vontades e interesses de uma parcela da sociedade; torna-se também seu melhor fiador”. É dentro desse contexto que “fomentam e articulam as políticas públicas, os conselhos populares”, que surgem como espaços de “articulação e mobilizadores da sociedade para promover o debate e organizar a população”. 
Esses “conselhos populares” estão em diversas partes da história, por exemplo na “Comuna de Paris (1871), nos sovietes na Rússia, e em conselhos operários na Alemanha e na Itália”, no caso do Brasil esses conselhos surgem na “década de 1930”, porém é apartir de 1970/1980 que surge os “conselhos comunitários” que são formados a partir das associações de amigos de bairro e que “foram criados literalmente pelo poder público como forma de controle dos movimentos de moradia e de favelas”. Essas ações acontecem “no período de resistência à ditadura militar e das lutas pela redemocratização”, que termina na “década de 1980 com a época das negociações ou a era dos direitos”. Destaque para a “sociedade de Amigos de Bairros de São Bernardo do Campo, responsável por grande pare da urbanização da cidade nos anos 40 e 50”.[6]
É importante entender que a área de políticas públicas consolidou nos últimos sessenta anos um “corpo teórico próprio, um instrumental analítico útil e um vocabulário voltado para compreensão de fenômenos de natureza político-administrativa”. SECHI, Leonanrdo, 2010.
Portanto Adão Francisco de Oliveira, em seu texto Fronteiras da educação: desigualdades, tecnologias e políticas organizadas por Adão F. de Oliveira, Alex Pizzio e George França, Editora da PUC Goiás, 2010, páginas 93-99, diz que Política pública é uma “expressão que visa definir uma situação específica da política”, portanto essa palavra é de origem grega que significa “politikó”, que seria a “condição de participação da pessoa que é livre nas decisões sobre os rumos da cidade”, e a “polis” que é de origem latina, “publica”, e significa povo. Imagino que é a participação do povo nas decisões públicas.
Portanto esses “conselhos” muitas vezes foram a forma que o “poder público” encontrou para copiar das lideranças populares a “forma direta e independente até verem suas demandas atendidas, tais como saúde, habitação, educação e trabalho”. Esses conselhos transformaram-se tanto em “espaços de resistência e transformação social” como também em formas de “controle das demandas oriundas dos movimentos sociais, muitas vezes silenciados sutilmente”. Transformando-se nos “principais articuladores das políticas públicas no Brasil a partir da Constituição de 1988”.  Assim a política pública pode ser compreendida como uma “série de ações organizadas para atender aos interesses públicos, trata-se de garantir os direitos sociais e coletivos”. 


Portanto as inúmeras “transformações que sofreu nossa sociedade” ao longo do tempo são possíveis identificar que apesar dos conceitos continuarem a defender ou sinalizar a participação do povo, conforme o texto “Políticas Públicas: conceitos e práticas supervisionados” por Brenner Lopes e Jeffersson Ney Amaral e na coordenação de Ricardo Wahrendorff Caldas - Belo Horizonte – Sebrae/MG, 2008 afirma que atualmente “é comum se afirmar que a função do Estado é promover o bem estar social da sociedade” e que para isso é necessário “desenvolver uma série de ações e atuar diretamente em diferentes áreas, tais como saúde, educação, meio ambiente”, sim imagino que é muito mais do que isso e para atingir os resultados pois os “governos se utilizam das Políticas Públicas” que podem ser definidas de várias formas, e apartir de então escolhi para responder essa inquietação alguns conceitos de Políticas públicas:
Para Lopes Políticas públicas é um “conjunto de ações e decisões do governo, voltadas para a solução (ou não) de problemas da sociedade”, observo que são algumas ações e decisões do governo portanto não terá sentido se apenas ter a idéia será necessário executá-la e para isso ira precisa de atores com objetivo de responder as necessidades da sociedade fará o possível para executar as ordens impostas (p.5). E esses atores que segundo Lopes são grupos que:

“Integram o Sistema Político, apresentando reivindicações ou executam ações, que são transformados em políticas”, portanto penso ser pessoas de muita influência na sociedade até mesmo para poder articular com instituições de diversas áreas, pois deverão nas “sociedades contemporâneas ter recursos para atender a todas as demandas da sociedade e seus diversos grupos...” (p. 6).

Oliveira também traz um conceito de qual sentido contemporâneo para o termo Políticas públicas, pois nas últimas décadas se tornou uma “dimensão muito ampla.”
E citando Celina Souza no seu livro Políticas públicas: questões temáticas e de pesquisa, Caderno CRH, Salvador, n. 39, jul./dez. 2003, que “fez um interessante cotejamento sobre algumas principais definições sobre políticas públicas”. Imagino que possa nos dimensionar como entender essa questão.
Segundo Oliveira o autor Mead defini Políticas públicas como um “campo dentro do estudo da política que analisa o governo à luz de grandes questões públicas. (1995)”, penso que nesse conceito é necessário que partimos de assuntos relevantes enquanto há outros que precisam ser discutidos e não é relevante para alguns.
Continuando na perspectiva de Oliveira, ele cita o autor Lynn que defini da seguinte forma; é o “Conjunto específico de ações do governo que irão produzir efeitos específicos. (1980)”, imagino que esse conjunto de ações específicas do governo será que é viável para a sociedade? E efeitos o governo espera que seja produzido?
Já o autor Peters (1986) diz que é a “Soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que influenciam a vidas dos cidadãos.”, nesse conceito observo que o governo tem algumas ações para serem realizadas, porém ele usará os atores para essa execução que por sua vez irá influenciar a sociedade, partiríamos então de algumas ideologias que seriam implantas em diversos setores da sociedade e que certamente fugiríamos do assunto proposto.
O autor Dye (1984) definiu políticas públicas como “O que o governo escolhe fazer ou não fazer.”, sim, penso eu, o governo tem suas vontades porém creio que os cidadãos também têm o direito de discutir como fazer.
E por fim Laswell (1958) que diz que é “Responder às seguintes questões: quem ganha o quê, por quê e que diferença faz.” Creio que nesse conceito a minha resposta é que a sociedade deve ganhar por quê os que fazem Política (Vereadores, Prefeitos, Deputados Estaduais, Deputados Federais, Governadores, Senadores e Presidente da República) devem servir ao povo no ponto de vista de estar articulando melhorias para todos os setores, e isso faria a diferença numa sociedade justa e que pudesse atender as demandas da atual contemporaneidade.
No texto publicado por Adão Francisco de Oliveira de onde é extraído os conceitos de diversos autores que julgo estar atualizados, Oliveira diz que apesar da contribuição de Souza (2003) entende-se que o melhor termo que o define, por conta de seu caráter didático, é o desenvolvido por Sérgio de Azevedo no seu livro “Políticas públicas: discutindo modelos e alguns problemas de implementação”. In SANTOS JUNIOR, Orlando A. Dos (et. Al.). Políticas públicas e gestões local: programa interdisciplinar de capacitação de conselheiros municipais. Rio de Janeiro: FASE, 2003, a partir da articulação entre as compreensões de Dye (1984) e Lowi (1966)” e que nesse exercício Azevedo (2003, p. 38) definiu que “Políticas pública é tudo o que um governo faz e deixa de fazer, com todos os impacto de suas ações e de suas omissões”, portanto com esse complemento observo que haverá uma conseqüência para as ações tomadas pelo governo.

Uma política pública é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público... é uma orientação à atividade ou à passividade de alguém; as atividades ou passividades decorrentes dessa orientação também fazem parte da política pública; uma política pública possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público; em outras palavras, a razão para o estabelecimento de uma política pública é o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevante. (Leonardo p.2).

Poder abordar vários autores e perceber que os conceitos de Políticas públicas variam, porém imagino ter o mesmo viés que é justamente ter a intenção de apartir de detectar problemas na sociedade, o governo da cidade, do estado ou do país buscam soluções que são construídas com a população. Apartir de 1990 iniciou-se com “ações de desmantelamento dessas conquistas” que foram orientadas pela ideologia neoliberal e que impôs um “processo de contrareforma do estado”, e isso dominou o cenário “político e social brasileiro” com uma intensa campanha ideológica querendo convencer a opinião pública sobre “a criminalização dos movimentos sociais” e nesse contexto turbulento o “terceiro setor” que é representado pelas ONGs ganha “força e espaço na sociedade, tornando-se um dos principais proponentes das políticas públicas”. Mas na verdade essas ONGs orientadas pelo neoliberalismo serviu de “amortecedor das pressões sociais e impedindo a organização popular efetiva e, por conseguinte, o exercício de uma cidadania efetivamente transformadora”.



[1] Tema do Trabalho de Conclusão de Curso, 2014, Odemir Silva
[2] Presbítero, Bacharel em Teologia, Capelão Prisional, Licenciado em Ciências Sociais, Pós-Graduando em Especialização em Ensino de Filosofia, Professor de Sociologia e Filosofia na Rede Pública Estadual.
[3] Oswaldo de Oliveira Santos Jr. é Graduado em estudos Sociais/Geografia pelo Centro Acadêmico Faculdades Integradas do Ipiranga (1992) e bacharel em Teologia pela UMESP (2003), Mestre em Ciências da Religião, na área de Práxis Religiosa e Sociedade, pela UMESP.
[4] Guia do Aluno – Do global ao local: tensões e conflitos no espaço urbano /Universidade Metodista de São Paulo. Organização de Lucineida Dovão Praun. 2ed. São Bernardo do campo: Ed. Do Autor, 2013. pg. 92-104.
[5] Para Maquiavel “virtude cívica” correspondia à sabedoria do cidadão, dedicado à melhorias das instituições (MASIP, 2001) e que não pode ser confundida com virtú.
[6] GOHN, P. 90

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A Tartaruga e a Águia



Por Odemir Silva

Neidson Rodrigues[1]

Você é uma tartaruga ou uma águia? Você é daqueles que, diante das dificuldades, prefere encolher-se na segurança da sua casca? Ou, quem sabe, você pressinta o instinto da águia que o impulsiona a aceitar desafios e ultrapassar intempéries?
Um famoso filósofo alemão do século passado, Frederico Nietzsche, tece uma crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para desenvolverem apenas o instinto da tartaruga. O que quer dizer isso?
A tartaruga é o animal que, diante do perigo, da surpresa, recolhe a cabeça para dentro de sua casca. Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde na casca os membros, tentando proteger-se contra o desconhecido. Este é o instinto da tartaruga: defender-se, fechar-se ao mundo, recolher-se para dentro de si mesma e, em conseqüência, nada ver, nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar. Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e políticos de educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos educado os homens para aprenderem a se defender contra todas as ameaças externas, sendo apenas reativos. Ensinamos o espírito da covardia e do medo.
Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto da águia.
A águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e habilidades, que aguça ouvidos, olhos e competência para ultrapassar os perigos, alcançando vôo acima deles. É capaz, também, de afiar as suas garras para atacar o inimigo, no momento que julgar mais oportuno.  As nossas escolas têm procurado fazer com que nossas crianças se recolham para dentro de si e percam a agressividade – o instinto próprio do homem corajoso, capaz de vencer o perigo que se lhe apresenta.
Temos criado, neste país, uma geração-tartaruga, uma geração medrosa, recolhida para dentro de si. E estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga. Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para nos opor ás suas propostas e criar soluções alternativas. Agimos apenas de maneira reativa, negativa, covarde.
Quando aprenderemos que não precisamos se esconder diante das ameaças, porque todos nós temos capacidade de alçar vôo às alturas, ultrapassando as nuvens carregadas de tempestades e perigo? Temos ensinado isso aos nossos alunos? Ou ensinamos a se arrastarem como vermes, e porque se arrastam como vermes, elas se tornam incapazes de vencer as dificuldades do dia-a-dia.
O que desejamos, afinal, desenvolver em nós (Educadores), nas crianças, pré-adolescente, jovens eadultos?

O instinto da tartaruga ou o espírito das águias?

*Este texto foi compilado e readaptado para melhor aplicação.


“Não estamos preocupados em inventar novas técnicas de ensino, buscar novas teorias ou descobrir novas formas de planejamento para a educação, mas estamos sim preocupados em responder, através do exemplo, dinamismo e comprometimento com a Palavra de Deus, ao apelo que vem da sociedade, de que a EBD cumpra, de maneira completa e decisiva, o seu papel na formação dos cristãos.” [2]


[1] Escritor, Professor, Superintendente Educacional da secretaria de estado da Educação de Minas Gerais e um dos grandes Intelectuais dos anos 80.
[2] Readaptado do mesmo autor do texto “A Tartaruga e a Águia”.