Por Odemir Silva
No seu livro
“Introdução à ciência política”, Darcy Azambuja deixa claro que a ciência
política serve, ao mesmo tempo, “para compreender a sociedade, para entender a
política e para auxiliar a organizar a própria política, ao dar bases para a
ação e a legislação”. Se estivermos condenados à vida em sociedade, logo, à
presença da política, poucas ciências serão mais profundamente úteis.
Platão e
Aristóteles são considerados os “pais” da ciência política. Platão [...] procura construir o Estado
ideal, onde os governantes seriam filósofos e os filósofos seriam governantes. Aristóteles [...] também procura
descrever o bom governo, mas parte da observação de realidade política [...] A
idade Média trouxe a contribuição d pensamento cristão [...] Santo Agostinho e Santo Tomás, além de
outros teólogos católicos, enunciaram teorias e observações que a ciência
política não pode ignorar [...].
Maquiavel
[...] expõe a “arte de conquistar, manter e exercer o poder”; não pregou
como geralmente se supõe a imoralidade em política, mas analisou a realidade e
tirou as conclusões que lhe pareceram acertadas. Montesquieu [...] usou a
observação sistemática, histórica e comparativa, e divulgou o princípio da
divisão do poder, inspirado em Locke.Tocqueville e August Comte [...] são os dois maiores nomes do século XIX. Daí
por diante, as obras sobre política são numerosíssimas, com orientações e
métodos diversos. Depois da Primeira Guerra Mundial, e, sobretudo de 1945 em
diante, a ciência política inicia a fase positiva e se oficializa nas
universidades. Rica e variada atividade, na teoria e na pesquisa, renova e
amplia o campo do conhecimento político.
Segundo
Aristóteles “O homem” é por natureza, animal político. Tal afirmação não
significa apenas a necessária socialização da vida tendo em vista assegurar a
proteção mútua dos indivíduos e a cooperação no trabalho, porque isso, também
os animais podem fazer, portanto dizer que o homem é “um animal político”
significa que, antes de ser uma associação econômico-militar, a associação
política, isto é, o Estado, é de natureza ético-jurídica e a finalidade da
política consiste em organizar a sociedade de tal modo que nela seja possível a
cada cidadão viver uma vida virtuosa e feliz e não apenas materialmente
confortável.
Interessante que
a existência humana é essencialmente política porque o homem é dotado não só de
linguagem, mas principalmente de logos. A linguagem não é a simples capacidade
de expressar pensamentos, desejos ou sentimentos que, como tal, os animais
também possuiriam. Para Aristóteles ela é antes de tudo logos no sentido de
discernimento. Este consiste sobretudo na capacidade de distinguir
racionalmente o útil do inútil, o bem do mal, o verdadeiro do falso, a justiça
da injustiça e de chegar a um consenso quanto a essas noções.
O logos designa
assim o fundamento da capacidade prática de se orientar em um mundo histórico e
contingente, libertando-se das paixões e dos interesses pessoais, chegando a um
acordo com os outros mediatizado pela visão da verdade, isto é, particularmente,
do verdadeiro bem. Por essa via a política se dá como uma prática racionalmente
orientada para a construção e manutenção do bem comum e, como tal, exige certa
ciência. A verdadeira sabedoria, portanto, de ordem prática, é um saber fazer o
bem, e a política diz respeito ao bem último que convém ao homem conhecer e
buscar.
Portanto, o ser
humano que vive em busca da felicidade precisará da filosofia que se encontra
obrigada a definir que tipo de sabedoria seria necessário desenvolver para
determinar esse bem e as formas de alcança-lo, no plano individual essa
sabedoria se chama ética, no plano social, política. Que determina, entre os
saberes, quais são os necessários para as cidades e o tipo de sabedoria que
cada classe de cidadão deve possuir.
Sendo assim a
política “se serve das outras ciências práticas, legislando sobre o que é
preciso fazer e do que é preciso abster-se; assim sendo, o fim buscado por ele
deve englobar os fins de todas as outras, donde se concluir que o fim da
política é o bem propriamente humano”.
Continua...