quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A necessidade da politização do cidadão



Por Odemir Silva

 

No seu livro “Introdução à ciência política”, Darcy Azambuja deixa claro que a ciência política serve, ao mesmo tempo, “para compreender a sociedade, para entender a política e para auxiliar a organizar a própria política, ao dar bases para a ação e a legislação”. Se estivermos condenados à vida em sociedade, logo, à presença da política, poucas ciências serão mais profundamente úteis.
Platão e Aristóteles são considerados os “pais” da ciência política. Platão [...] procura construir o Estado ideal, onde os governantes seriam filósofos e os filósofos seriam governantes. Aristóteles [...] também procura descrever o bom governo, mas parte da observação de realidade política [...] A idade Média trouxe a contribuição d pensamento cristão [...] Santo Agostinho e Santo Tomás, além de outros teólogos católicos, enunciaram teorias e observações que a ciência política não pode ignorar [...].  

 

Maquiavel [...] expõe a “arte de conquistar, manter e exercer o poder”; não pregou como geralmente se supõe a imoralidade em política, mas analisou a realidade e tirou as conclusões que lhe pareceram acertadas. Montesquieu [...] usou a observação sistemática, histórica e comparativa, e divulgou o princípio da divisão do poder, inspirado em Locke.Tocqueville e August Comte [...] são os dois maiores nomes do século XIX. Daí por diante, as obras sobre política são numerosíssimas, com orientações e métodos diversos. Depois da Primeira Guerra Mundial, e, sobretudo de 1945 em diante, a ciência política inicia a fase positiva e se oficializa nas universidades. Rica e variada atividade, na teoria e na pesquisa, renova e amplia o campo do conhecimento político.
Segundo Aristóteles “O homem” é por natureza, animal político. Tal afirmação não significa apenas a necessária socialização da vida tendo em vista assegurar a proteção mútua dos indivíduos e a cooperação no trabalho, porque isso, também os animais podem fazer, portanto dizer que o homem é “um animal político” significa que, antes de ser uma associação econômico-militar, a associação política, isto é, o Estado, é de natureza ético-jurídica e a finalidade da política consiste em organizar a sociedade de tal modo que nela seja possível a cada cidadão viver uma vida virtuosa e feliz e não apenas materialmente confortável.
Interessante que a existência humana é essencialmente política porque o homem é dotado não só de linguagem, mas principalmente de logos. A linguagem não é a simples capacidade de expressar pensamentos, desejos ou sentimentos que, como tal, os animais também possuiriam. Para Aristóteles ela é antes de tudo logos no sentido de discernimento. Este consiste sobretudo na capacidade de distinguir racionalmente o útil do inútil, o bem do mal, o verdadeiro do falso, a justiça da injustiça e de chegar a um consenso quanto a essas noções.

 

O logos designa assim o fundamento da capacidade prática de se orientar em um mundo histórico e contingente, libertando-se das paixões e dos interesses pessoais, chegando a um acordo com os outros mediatizado pela visão da verdade, isto é, particularmente, do verdadeiro bem. Por essa via a política se dá como uma prática racionalmente orientada para a construção e manutenção do bem comum e, como tal, exige certa ciência. A verdadeira sabedoria, portanto, de ordem prática, é um saber fazer o bem, e a política diz respeito ao bem último que convém ao homem conhecer e buscar.
Portanto, o ser humano que vive em busca da felicidade precisará da filosofia que se encontra obrigada a definir que tipo de sabedoria seria necessário desenvolver para determinar esse bem e as formas de alcança-lo, no plano individual essa sabedoria se chama ética, no plano social, política. Que determina, entre os saberes, quais são os necessários para as cidades e o tipo de sabedoria que cada classe de cidadão deve possuir.

 

Sendo assim a política “se serve das outras ciências práticas, legislando sobre o que é preciso fazer e do que é preciso abster-se; assim sendo, o fim buscado por ele deve englobar os fins de todas as outras, donde se concluir que o fim da política é o bem propriamente humano”.

Continua...